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14 de ago. de 2008

Atleta de 12 anos competirá com rival de 41 em Pequim

A camaronesa Antoinette Guedia nasceu no dia 21 de outubro de 1995. Onze anos antes, a norte-americana Dara Torres conquistou a primeira de suas 10 medalhas olímpicas. Nos Jogos de Los Angeles, a nadadora venceu a prova do revezamento 4x100 metros livre ao lado da equipe dos Estados Unidos. Nesta sexta-feira, as duas serão rivais nos 50 metros livre dos Jogos de Pequim. Com 12 anos e 10 meses, a atleta mais jovem da competição será adversária da veterana, 41 anos, dona de quatro ouros olímpicos.


Chamada de "Campeã" pelas amigas de escola em Camarões, Antoinette Guedia treina em uma piscina de 22 m de um hotel onde ela aprendeu a nadar há apenas quatro anos. A piscina a céu aberto é a mais extensa disponível em Douala, maior cidade do país africano. Prestes a nadar no moderno Cubo d'Água de Pequim, ela competiu somente uma vez em uma piscina de 50 metros, quando participou dos Jogos Africanos de 2007, disputados na Argélia.

Na China, Dara Torres conquistou a prata com a equipe dos Estados Unidos no revezamento 4x100 m livre, a mesma prova na qual ganhou a primeira medalha olímpica de sua carreira, há 24 anos. Desta forma, se tornou a primeira nadadora da história a ganhar medalhas em cinco edições dos Jogos. Além disso, a atleta é a mais velha a levar uma medalha na natação. "A idade é realmente apenas um número e eu espero que minha idade abra caminho para que outros atletas, que talvez pensem estar muito velhos para fazer algo, voltem ou continuem no esporte", afirmou, logo após ganhar a prata.

Mãe de uma filha de dois anos, Dara Torres chegou a se aposentar duas vezes, mas resolveu voltar para acrescentar mais medalhas à sua coleção. Quando Antoinette Guedia nasceu, ela já tinha dois ouros, uma prata e um bronze. Na Vila Olímpica, jogadores de vôlei e halterofilistas fazem a camaronesa parecer ainda menor. "É um pouco opressivo. Eu sou pequena", disse a atleta em um francês cantado, enfeitada com um colar de pedras verdes, vermelhas e amarelas escrito "África" que usa como amuleto.

O recorde mundial dos 50 m livre, de 23s97, é da australiana Lisbeth Trickett. Já o tempo de qualificação de Antoinette Guedia é de 36s00. Ela compete na segunda bateria da categoria, que deve roubar a cena no Cubo d'Água. Neste momento, estarão reunidas algumas das atletas mais jovens e vagarosas dos Jogos. Elsie Uwamahoro, do Burundi, nascida em 1988, se classificou com o tempo de 40s00. Com míseros 14 anos, Pinto Zahra, do Malawi, chega com a marca de 34s38. Também de 1993, a nepalesa Karishma Karki tem o tempo de 34s97.

No outro extremo, estão as nadadoras da 10ª bateria, entre elas Dara Torres, que tem o tempo de classificação de 24s25, e a brasileira Flávia Delaroli, inscrita com o tempo de 25s25. O abismo que separa as duas atletas pode ser verificado até mesmo no site oficial dos Jogos. Enquanto a página oferece o peso da norte-americana em libras e em kilogramas, no perfil de Antoinette Guedia não consta seu local de nascimento, o lugar onde reside e muito menos seu peso ou altura.
Apesar da diferença brutal de experiência e performance, a jovem camaronesa mantém a tranqüilidade.

"É incrível estar aqui na minha idade. Estou orgulhosa", afirmou. Há quem critique a participação de crianças em competições de alto nível, mas Guedia, de chinelos, camiseta vermelha e jeans verde rasgado, é mais relaxada do que grande parte nadadoras mais velhas, estressadas em busca de meios para ganhar mais um centésimo de segundo em suas provas.

Guedia escuta hip-hop para acalmar os nervos e, como qualquer criança, come fast food no restaurante da Vila Olímpica. A capital de Camarões, Yaounde, planeja construir uma piscina olímpica, mas a cidade fica a várias horas de viagem para a menina.

"Eu quero ir para fora do país. Acho que posso progredir mais", sonha a jovem. Ela ganhou seu primeiro troféu ao vencer um torneio regional poucos meses após receber as primeiras lições na água. Depois de três anos, já era campeã nacional de natação.

"Eu ainda me lembro, fiquei tão feliz", disse Guedia ao recordar o primeiro troféu, conquistado em uma piscina de 18 m. "Comecei atrás das outras, mas no fim, não sei o que aconteceu, eu passei todo mundo. Depois disso, comecei a ganhar tudo", acrescentou.

O quarto da garota ficou tão cheio de troféus, que seu pai - um oficial de alfândega fanático por esportes, cujo maior sonho está se tornando realidade ao ver a filha na Olimpíada - passou alguns deles para que parentes tomem conta.

Guedia garante que o sucesso não subiu à cabeça. Ela leva a escola a sério e seus treinadores dizem que competir em Pequim é mais um treino para prepará-la para os Jogos da Juventude, na Índia, ainda neste ano.

"Comecei a nadar porque meu pai pensava que seria um bom hobby. A competição foi uma grande surpresa", declarou a nadadora africana, que pretende levar cada vez mais a sério a atividade que começou como passatempo e serviu para colocá-la entre os melhores esportistas do planeta.

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